Duro, muito duro. Assim foi o meu primeiro triatlo de distância olímpica. Foi daquelas experiências que, durante a prova, nos leva a pensar "mas porque raio é que eu me meti nisto", mas depois, quando acabamos, já estamos a pensar no que temos de fazer para correr melhor da próxima vez. De facto este Triatlo do Estoril não me correu bem. Não foi mau, cheguei ao fim, cortei a meta e esse era o principal objectivo. Mas esteve longe de ser perfeito.
Depois de uma primeira experiência em Alpiarça, a logística já era uma questão controlada. O "problema" agora era o dobrar das distâncias, principalmente na água. 1500 metros a nadar no mar foi o que mais me preocupou nos dias que antecederam a prova. Felizmente o Sol brilhou neste domingo e o vento foi para outras paragens pelo que, quando pisei o areal do Tamariz e olhei para o mar suspirei de alívio.
Por essa altura já contava com a companhia do pessoal do Clube de Triatlo dos SS CGD, o Nuno, o Carlos e o Tiago. Malta, vocês são um espectáculo. Do melhor mesmo. Obrigado pelo apoio e pelo incentivo. Já na praia comecei a olhar para o percurso. Seria um triângulo, feito em duas voltas, e as bóias pareciam estar mesmo ali, ao alcance de umas braçadas. Como eu me enganei.
Por essa altura já contava com a companhia do pessoal do Clube de Triatlo dos SS CGD, o Nuno, o Carlos e o Tiago. Malta, vocês são um espectáculo. Do melhor mesmo. Obrigado pelo apoio e pelo incentivo. Já na praia comecei a olhar para o percurso. Seria um triângulo, feito em duas voltas, e as bóias pareciam estar mesmo ali, ao alcance de umas braçadas. Como eu me enganei.
Assim que entrei na água a primeira coisa que senti foi gelo nos pés. Estava gelada... O primeiro mergulho foi de sacrifício, mas tinha de ser. Deixei a multidão ir às respectivas vidinhas e comecei a dar as primeiras braçadas tentando adaptar-me ao frio da água na cara e nas mãos. Os primeiros metros foram muito maus. Apesar de ir cá atrás, ainda havia muita confusão e não consegui nadar como queria. Só à passagem da primeira bóia estabilizei. Foi nessa altura que levantei a cabeça e olhei em frente para ter noção de onde estaria a bóia seguinte. E aquilo que, cá fora, parecia perto, dentro de água era como se fosse do outro lado do mundo. Nadei, nadei, nadei.... nadei mais um bocadinho e continuei a nadar. A primeira bóia chegou finalmente e virei para o lado de Cascais. Novo olhar em frente e apontei à bóia seguinte, também longe como o raio. Quando cruzei a segunda bóia, dois problemas. O primeiro foi passar a nadar virado para o Sol, ou seja, não via nada. O segundo é que fui apanhado pelos primeiros, que já iam a completar a segunda volta. Levei umas fortes patadas e vi-me ultrapassado qual R5 numa corrida de F1. Passada esta pequena tempestade, lá fui para a 3ª bóia para iniciar a segunda volta. Por esta altura já estava com a boca completamente salgada. Não tinha engolido água, mas só o contacto com a boca incomodava. Mas não havia nada a fazer, por isso vá de iniciar a segunda volta. Novamente a primeira bóia pareceu longe como o raio, assim como a segunda e também a terceira, a última que tive de cruzar antes de me dirigir de volta à praia. Pouco depois de passar pela "baliza" obrigatória sinto uma dor forte no gémeo da perna esquerda. Cãibra e das valentes - ainda me dói neste momento. Nem conseguia mexer a perna. Nada a fazer. Desistir não era opção. Não nada esta perna, nada a outra. A praia, que estava ali à vista, parecia nunca mais chegar e às tantas a dor foi desaparecendo. Quando me pus de pé estava quase bom. Mas então houve outra coisa. Tonturas. Quem me viu dar três passos para o lado assim que me pus de pé deve ter pensado "olha... este fica já aqui." Mas não fiquei. Endireitei-me. Olhei em frente e segui caminho pela areia, já tentando despir o fato. Entretanto olhei para trás, para o que tinha acabado de fazer e a água estava calma. Demasiado calma. Fui o antepenúltimo a sair da água, com 44 minutos. Demasiado mau para quem já faz a distância na piscina em menos de 35 minutos.
Transição #1
Depois de uns minutos complicados em Alpiarça para despir o fato, desta vez a coisa correu melhor. Para isso também contribuiu a distância entre a saída da água e a bicicleta, altura em que fui despindo o fato com calma, evitando que ficasse enrolado na cintura. Quando cheguei à bicicleta foi só tirar as pernas. Menos mau.
Ciclismo
Começar a pedalar não foi a coisa mais fácil do mundo. Ainda estava um pouco "tonto" de 44 minutos a nadar e a dor na perna afinal não tinha desaparecido completamente. Os primeiros quilómetros fizeram-se a muito custo, mas aos poucos as pernas começaram a desenvolver e sem dar por isso já estava a fazer o primeiro retorno, em Cascais. Entretanto já tinha passado pelo Nuno que, calculava eu, já devia ir na segunda ou terceira volta. De Cascais para o Estoril lembrei-me - já tinha aprendido isso na Maratona - que a Marginal está longe de ser totalmente plana. E que bom que era que fosse. As poucas subidas que existiam até São Pedro do Estoril custavam bastante e as respectivas descidas quase não davam para descansar. Quase sempre sozinho, sem conseguir integrar qualquer pelotão, fui percorrendo volta após volta.
No final da minha terceira volta passa por mim o Carlos, meu companheiro de equipa, integrado num grupo que, no entanto, fica quase todo no parque de transição. Ele seguiu e eu tentei seguir atrás dele, ainda que uns bons metros. Consegui apanhá-lo já quase no 2º retorno e ainda trocámos algumas palavras. Ele estava a cerca de três quilómetros de largar a bicicleta, enquanto eu teria de dar mais uma volta. Fomos juntos até ao fim dessa minha quarta volta e ele lá ficou no parque de transição, pronto para correr. Essa minha última volta foi uma tristeza. Já quase não havia ciclistas na estrada e no retorno em Cascais percebi que só devia ter no máximo cinco atletas atrás de mim. O público também já tinha desaparecido e até os árbitros de prova tinham recolhido sabe-se lá para onde. Mas o pior não era isso, era antes uma dor que me surgiu na zona abdominal e que me apanhava as costas e os rins. Cerrei os dentes e aguentei até ao final dessa volta e entrei - finalmente - no parque de transição, com 1h22m de ciclismo, dentro do que tinha previsto para este segmento. Agora vinha a tortura.
Transição #2
Sem grandes problemas. Larguei a bicicleta, troquei os ténis e ataquei os últimos 10 quilómetros.
A corrida final
Em Alpiarça o terceiro segmento tinha originado sensações estranhas. Por um lado sentia-me preso e lento, mas por outro estava a correr a um ritmo fantástico. Aqui, no Estoril, não havia dúvidas. Estava mesmo muito lento. Os primeiros passos de corrida foram de um peso imenso, ainda para mais porque era a subir, em direcção ao Casino. O primeiro quilómetro ainda consegui fazer a correr, mas depois tive mesmo de parar. Já não me lembrava da última vez que tinha andado durante uma prova, mas não tinha outra hipótese. As pernas até estavam bem, o cardio também, mas as dores abdominais e de costas não me deixavam fazer força, principalmente nas subidas. Ainda pensei que fosse estômago - tinha ingerido duas saquetas de gel durante o ciclismo -, mas não consigo dizer com certeza o que foi. Ao longo dos 10 quilómetros devo ter parado umas sete ou oito vezes. A descer a coisa até se compunha e conseguia correr a uma ritmo aceitável, mas a subir não dava e tinha mesmo de andar para recuperar as forças. Entretanto passa por mim o Nuno que já estava a acabar a prova - e eu com apenas 5 kms - e o Carlos que ia entrar para a última volta. Fizemos essa última volta juntos e que bem soube a companhia, obrigado companheiro. Enquanto ele seguia para a meta eu seguia para essa última volta de tortura, ainda para mais porque fui apanhado e ultrapassado pelo pessoal que tinha feito a Prova Aberta, de distância super-sprint, que tinha começado às 12h, e que já estavam a acabar. Durante os meus últimos 2500 metros perdi a conta à quantidade de putos que me ultrapassaram. A "vergonha" foi tal que quando me dirigi para a recta da meta um juiz ainda me mandou continuar, como não acreditando que houvesse alguém do triatlo olímpico ainda a competir. Sem glória, mas com muita honra cruzei a meta do Triatlo do Estoril com 3h 14m 36s, na posição 194, entre 196 participantes. No final lá estava o pessoal do clube e o Carlos deu-me aquele forte abraço - lembras-te Pedro?? - que qualquer atleta deve receber depois de completar um grande objectivo. "Fazer um Olímpico não é para qualquer um." disse-me ele animando-me, como que adivinhando o meu estado de desolação por a coisa não ter corrido como eu desejava.
É verdade. Não correu como eu desejava. Não por ter feito 15 minutos a mais do que o previsto - esperava acabar abaixo das 3h -, mas porque gosto de ter prazer nas provas e o único prazer que tive nesta foi o ter chegado ao fim. Sofri na natação, sofri, menos, mas sofri, no ciclismo e sofri muito na corrida. Creio que estava bem preparado fisicamente, talvez tenha sido um conjunto de circunstâncias que ainda não consegui perceber. Não percebo porque demorei 44 minutos a nadar uma distância que já faço facilmente em 35 minutos e também não percebo o que me provocou as dores abdominais que me tiraram uns bons 10 minutos na corrida. Mas aconteceu. Se calhar é suposto ser assim a primeira experiência olímpica de um gajo que se inicia nos triatlos aos 34 anos. Talvez seja isso.
O lado bom é que está feito e a medalha de participação já está no meu mostruário. Já tenho um Triatlo Olímpico no palmarés e, como o Carlos disse, não é qualquer um que se pode gabar disso.
E agora o vídeo de parte do segmento de ciclismo.
Só consegui filmar 3 das 5 voltas - a bateria pifou, creio eu -, mas já dá para ter uma ideia de como foi