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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Meia Maratona dos Descobrimentos - Dedicada ao Padrinho


(a equipa aquece-se)




Estive sempre em dúvida sobre se iria conseguir ir a esta prova por causa da pubalgia que me afectava intermitentemente desde Julho. A própria inscrição foi feita à última hora para garantir apenas que teria opção de correr, mas depois da primeira experiencia falhada com a Meia do Rock & Roll queria desesperadamente matar o borrego e fazer uma "meia" do principio ao fim. E em boa hora o fiz, pese embora todos os precalços que se sucederam e que veremos à frente.

O alvorada deste dia foi lindissima, com a luz fraca do sol outonal a acariciar lentamente o verde seco e acastanhado das enconstas de monsanto e árvores cujas sombras ao acordar, por baixo véu em forma de neblina de neblina, com o frio (3º), teimavam em se levantar preguiçosamente do chão. e o vale de Belém mergulhado numa névoa mágica.

Estava frio e a corrida começava com uma longa subida, era portanto imprescindivel um bom aquecimento, e assim fizemos. Eu, o Ricardo - que tinha como objectivo ficar abaixo das duas hora (o meu segundo objectivo) e o Cunhado.

(três estarolas a aquecer)

O 1º Km a subir até ao estádio do Restelo correu de acordo com o planeado, em 6', os kms seguintes também, sempre a acelerar até ao 5:30 que mantive até ao 5º km. Até aqui sempre acompanhado pelo Ricardo. A partir daqui, já estaria quente, tinha planeado fazer 5:20 por km, e disse ao Ricardo que iria acelerar ao que ele retorquiu "então vai" em jeito de despedida. Mal ele sabia...

Alargo a passada, ligo o mp3 pois a partir daqui iria só. Mais à frente encontro uma rapariga com a camisola da Caixa, que ia mais ou menos ao meu ritmo, que ia sozinha como eu, que ia com fones nos ouvidos como eu. Mas que eu não conhecia de lado nenhum. Ponho-me ao lado dela, cumprimento-a e seguimos em silêncio cerca de um/dois quilometros.

Sem querer piso uma pedra com a planta lateral do meu pé direito...

Sentia-me muito bem, e pergunto à minha parceira de ocasião se não quer acelerar um pouco, ela, que sabe que aquele é o ritmo dela, declina. Deixo-a e acelero até aos 5:15 no 8ºkm. Até aqui tudo estava perfeito, mas...

...há uma dorzinha na planta do pé direito...

Metro após metro vou desacelerando tentando não forçar a dor, mas esta como uma interminável nota dissonante numa sinfonia em allegro vivace, continua em crescendo até me forçar a coxear. Na ribeira das naus o chão empedrado torna-se numa tortura, ainda assim continuo, passa por mim o Albano que me dá força.

A rapariga da Caixa que me fez companhia, acaompanha-me um pouco e comenta simpaticamente: "Há ai qualquer coisa de errado, não há?" - anui "o pé direito".

A dor vai-se intensificando até ao km 13º, feito já em 6'30'', altura em que todos os restantes elementos do blog passam por mim em sentido contrário (não sei se me viram cochear). Quando chegamos à estação de Santa Apolónia, já não consigo continuar, penso que devo ter uma fractura no pé, e que o melhor é desistir e telefonar à minha mulher para me vir buscar...

... e a crónica acabava tristemente aqui não fosse...

É neste momento que o Ricardo, o meu padrinho das corridas, e que eu tinha deixado para trás há uns kms, me vê hesitar, e me dá um empurrão nas costas e grita o clássico das corridas: "ABRANDA MAS NÃO PÁRA!"

Digo-lhe o que se passa com o meu pé, ele em vez de me deixar para trás, vai comigo àquela velocidade lenta, indicando-me os caminhos mais planos, que magoem menos o pé, para correr. E pouco a pouco, não sei porque motivo, se é uma questão psicológica de correr acompanhado, se foi alguma razão fisica, mas a verdade é que a dor vai ficando suportável.

Vamos acelerando até aos 5'55'' no 16º km, altura em que fazemos as contas e vemos que se nos esforçarmos ainda conseguimos chegar à meta antes das 2 horas. Sentia-me bem outra vez e depois do que ele tinha feito por mim, queria mesmo que ele chegasse à meta antes das duas horas.



Sempre a gritar por nós, aceleramos para os 5'20'' no km 19, 5'17'' no 20º e 5:13 no 21º. Mesmo com o meu pé lesionado e mesmo com os problemas respiratórios do Ricardo...

Na reta da meta ainda ouço a minha mulher a puxar por mim, e a tirar uma foto. Ainda assim o tempo final de chip foi de...

...2h00m21s

Foi por pouco mas não conseguimos. Ainda assim uma série de provas menos conseguidas no inicio da época ensinaram-me a tirar sempre o positivo de cada prova. Neste caso saliento o seguinte:

1 - Consegui correr uma meia maratona de fio a pavio pela primeira vez - Graças ao Ricardo;

2 - Recebi uma lição de auto superação da dor - nunca pensei, mas cada vez mais sinto que há algo de neanderthal em mim;

3 - Recebi uma lição de amizade.

Sem o Ricardo nunca teria conseguido, e sei que ele sacrificou o objectivo dele de baixar as duas horas para puxar por mim. E a ele dedico a crónica.

P.S. Ahhh e 10 segundos depois de ter acabado de correr não conseguia não conseguia por o pé no chão. Fui à tenda da Cruz Vermelha e depois ao hospital fazer raio x...


Diagnóstico: Entorse da planta do pé. Menos mal

8 comentários:

  1. Tb eu fui ajudado por um Ricardo... Vivam os Ricardos! (Sem abichanar, OK?)
    :)
    Bom esforço e bom espírito de sacrifício! Parabéns!

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    1. Sim, sem abichanar... é claro!!! lol

      O Zé só precisou de um empurrãozito. Depois até se portou como um homem e aguentou a dor até ao fim... :)

      Agora a sério, não fiz nada que nenhum outro membro deste blog (e felizmente, também a grande maioria dos corredores que andam por aí) não faria. Quem aguentou a dor foi ele. Parabéns Zé!

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    2. Obrigado. Fiz uma meia do principio ao fim pela primeira vez. Foi bom... Sem abichanar!

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  2. Apesar da lesão, por tudo o que descreves, foi uma boa prova e foram bons momentos. Isso é o mais importante.
    Parabéns e as melhoras!

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    1. Podes ter a certeza. Foi muito bom conseguir acabar depois daquilo tudo, independentemente do tempo. Obrigado :)

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  3. " Recebi uma lição de auto superação da dor - nunca pensei, mas cada vez mais sinto que há algo de neanderthal em mim" :) Sim, foi só isto que retive da tua crónica... lol ;)
    Parabéns pelo esforço! Aqueles 22 segundos que te separaram do objectivo são sempre inglórios, mas agora sabes que tens o que é preciso para superar essa e outras metas. Tens um neanderthal em ti! :)
    Boa recuperação.

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    1. Olá :) Obrigado :| Eu já tinha abandonado esse objectivo, queria era que o Ricardo o fizesse.

      Fica para a próxima!!!

      Agora esta capacidade de superar a dor é que me surpreende... e assusta, já quando parti a clavícula andava pelo hospital todo fresco. Já sabes, quando vires um neanderthal a passar por ti numa prova... sou eu :) :) :)

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    2. Eu acho que alguem não compreendeu o picanço... Vou refrasear, quando vires um neanderthal a ultrapassar-te...

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