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domingo, 25 de agosto de 2013

Quebrar a barreira dos 30 kms

A pouco mais de um mês da Maratona de Lisboa, hoje foi dia de mais um treino longo. Sem Pedro T., que inventou uma desculpa muito fraquinha para não correr hoje, restámos apenas três elementos, eu, o Filipe e o Fernando. Às 7h da manhã lá estávamos, no KM 0 do passeio marítimo de Oeiras para iniciarmos o treino. Logo à partida decididos que, salvo algum percalço, seria hoje o dia em que passávamos a barreira dos 30 kms, que tem sido a distância máxima em treinos anteriores.
 
O caminho até à Cruz Quebrada é sempre tranquilo. Estamos fresquinhos, cheios de vontade e com a motivação em alta. Conversa-puxa-conversa e sem darmos por isso já estávamos a chegar ao primeiro ponto de retorno. Desta vez, porém, não seguimos na Cruz Quebrada junto ao rio, em vez disso fizemos a subida da estrada em direção ao Estádio do Jamor que, afinal de contas, teremos de fazer no dia da prova. Por essa altura já notava que estávamos a um ritmo muito alto para o desafio a que nos propunhamos. Em vez de corrermos a 6 min/km, estávamos a rondar os 5.30 min/km. Falámos entre nós e concordámos manter esse ritmo enquanto conseguíssemos, mas internamente pensava que poderia ser um erro e que podíamos pagar essa factura mais à frente no treino.
 
Até à chegada ao Estoril fui tranquilo, mas havia uma coisa que já me estava a incomodar. O meu corpo estava a pedir água, isto mesmo sem estar muito calor. Tinha levado as quatro garrafas do costume à cintura, a rondar os 500 ml, mas já só tinha uma e ainda faltavam uns bons kms até pararmos. Decidi então aproveitar os vários bebedouros e lava-pés junto à praia para ir bebendo água e encher de novo as garrafas. Como são pequenas, rapidamente ficavam cheias e quase nem parava de correr. O problema foi que à medida que ia bebendo mais água, mas o corpo pedia água. Perdi a conta às vezes que fui encher as garrafas, de tal forma que às tantas já estava uns bons 70 metros atrás dos meus companheiros de treino.
 
O retorno desta vez não se fez no Estoril, mas mais à frente, em Cascais, quase no ponto onde será a partida para a Maratona. Voltámos a passar por todos os bebedouros e lava-pés e eu continuava a beber água e tive a preocupação de ficar com todas as garrafas cheias quando saímos do passeio Cascais-Estoril e voltámos à estrada, mas mesmo assim não tinha a completa certeza que seriam suficientes para os 7/8 kms até ao carro. Tentei gerir a água ao máximo, mas o corpo continuava a pedir mais e mais líquido. Às tantas voltei a encontrar um bebedouro e voltei a reforçar o stock. Se ficasse sem água seria o fim do treino e ainda estava bem longe...
 
Já quase 100 metros atrás do Fernando e do Filipe vejo à distância que tinham parado de correr. Quando os alcancei o Fernando disse que tinha dado o berro, os joelhos estavam a dar cabo dele. Ainda caminhámos um minutos juntos, mas eu não podia parar. Já estava de novo quase sem água e estávamos apenas a 4 kms do fim. A que tinha chegava à justa para os 20/25 minutos que faltavam, mas se fosse a caminhar ia ficar sem água depressa. Certifiquei-me que o Fernando ficava bem e parti com Filipe que só me acompanhou por mais um quilómetro, acabando por ficar "em casa" logo na Parede. Faltavam 3 kms, estava sozinho, muito cansado, quase sem água e o corpo só pedia para parar. Doíam-me as pernas, os pés e tinha a boca seca. Por essa altura restava-me cerca de 100 ml de água e tinha de a gerir bem.
 
O avistamento do Forte da Barra foi como uma luz ao fundo do túnel. Sabia que ia de novo entrar no Passeio Marítimo, onde estava o carro, e - mais importante - onde havia água. Bebi a garrafa que me faltava e continuei sem parar. Às tantas começou a ser uma questão de orgulho. "Não vais parar, não vais parar, não vais parar", dizia para mim próprio. De novo junto à praia, voltei a aproveitar os bebedouros e lava-pés para me hidratar, mas ao fundo já via o parque de estacionamento onde estava o carro. Cheguei com 3h25m e com mais de 34 kms, mas hoje não sei se daria para ir aos 42... O que me valeu hoje foi a alimentação. Fiz tudo bem. Comi quando era suposto e até levei uma Extreme Bar, da Gold Nutrition, que se come em 3 ou 4 vezes, de tão substancial que é. Nesse aspecto nada a apontar.
 
Entretanto fiquei à espera do Fernando. Ainda lhe liguei para o telemóvel, mas nem sinal dava. Tratei de recuperar as forças e ao fim de uns 10/15 minutos de esperar por ele meti-me no carro para ir ao encontro dele. Mas não foi preciso. Ele já estava mesmo ali e estava ok, apenas com dores nas pernas.
 
Em resumo foi um treino bom. Exagerámos no ritmo inicial, é verdade, mas ainda assim tive forças suficientes para chegar ao fim. Creio que com a ajuda de mais água e bebida isotónica não teria problemas e continuar mais uns kms, mas isso é um "suponhamos" grande quando, na verdade, cheguei ao carro de rastos Para o próximo será melhor


 
 
Só uma nota...
 
Fez hoje 25 anos que o Chiado ardeu. Lembro-me desse dia como se tivesse sido ontem.
Não porque estivesse lá ou porque tivesse uma adoração especial pelo Chiado, mas porque naquela noite de 24 para 25 de Agosto de 1988 eu estava no Hospital de Sta. Maria com mais um ataque de asma severo, algo recorrente na minha infância. E lembro-me que eram umas 5 ou 6 da manhã e estava a fazer aerossóis ao colo da minha mãe quando apareceu uma enfermeira a dar a notícia.
Claro que eu, no alto dos meus 8 anos, não percebi a dimensão da coisa. Sabia lá o que era o Chiado, nem sabia onde era exatamente, mas havia de perceber nesse dia mais tarde e nos anos seguintes. E sempre que passa um ano e se fala no incêndio lembro-me de onde estava...
 
Há 25 anos, às 5h30m, estava no Hospital com um ataque de asma
Hoje levantei-me às 5h30m para ir correr 34 kms.
 
As voltas que a vida dá...
 
 
 
 
 
 
 
 
 

4 comentários:

  1. "Há 25 anos, às 5h30m, estava no Hospital com um ataque de asma
    Hoje levantei-me às 5h30m para ir correr 34 kms."

    Darth Vader, o teu capacete é a tua força de vontade! Abração

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  2. Sargento Rui, admiro a tua determinação!
    Também me lembro desta manhã há 25 anos atrás... O tempo passa num instante!

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  3. Grande treino! Já estás pronto pá! Parabéns!

    Também me lembro do dia do incêndio. Particularmente porque os meus tios perderam o emprego nesse dia... Mas felizmente correu tudo bem depois.

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  4. Tás um verdadeiro atleta! Tás pronto para a Maratona!
    Parece-me que a tua maior vitória é teres conseguido ao longo do tempo alterar alguns hábitos e com determinação teres ganho mais saúde e qualidade de vida que te permitem realizar uma Maratona, de forma confortável e saudável! Parabéns!!!
    Abraço

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